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Minha experiência na Igreja(29/03/08 )

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Minha experiência na Igreja(29/03/08 ) Empty Minha experiência na Igreja(29/03/08 )

Mensagem  JackWaters Ter Fev 24, 2009 11:16 pm

Ontem, a pedido de um amigo meu, eu resolvi ir à igreja, pela primeira vez em mais de uma década(na verdade eu nunca fui de frequentar templos religiosos, mas a última vez que me lembro de ter assistido a um culto religioso dentro de um templo foi quando eu era criança).

Esse meu amigo toca, junto com o irmão, em uma banda na igreja deles e ontem eles se apresentariam, então me chamaram pra eu assistir.Como sou fã de música ao vivo (principalmente rock) e queria vê-los tocar, resolvi ir.

Chegamos lá, cumprimentamos as pessoas, todos foram muito simpáticos e esbanjavam sorrisos e afetos.Terminados os cumprimentos, tomamos nossos lugares e esperamos a hora de eles subirem ao palco.

Desnecessário dizer que além da música(que por sinal foi bem legal, 3 bandas se apresentaram) houve culto e pregação, e é esse ponto que eu gostaria de detalhar.

Como sou ateu e cético, ouvi tudo aquilo como quem ouve uma historia de criança, tomando os bons ensinamentos, apreciando o conto, mas não levando ao pé da letra. O que me deixou um tanto incomodado foi a maneira como o pastor tratava de determinados assuntos:

Pra começar, parece que uma grande preocupação para aquela gente(e muitos outros crentes que conheço)é esse bicho chamado "Jovem", que costumam referir-se como se fosse algo isolado, que deve ser controlado; uma ameaça ('A juventude de hoje em dia...' 'Esses jovens de hoje...' 'Trabalho com jovens...' 'faço parte de um grupo de jovens...').

Não os vi tratando essas pessoas como semelhantes, como seres humanos, mas o tom em que falavam deixava trasnparecer uma preocupação, um medo talvez. É realmente estranho porque, antes de serem jovens, são seres humanos semelhantes a todos nós.

O discurso tomou continuidade, e eu fui ligando mentalmente algumas pontas soltas que agora fazem mais sentido para mim. Entendi finalmente o porque de haver muitos religiosos que tentam avidamente converter-nos e a todos os que não compartilham de suas crenças. O pastor não cansava de repetir que nós devemos fazer missões, devemos levar o evangelho a todos que estão lá fora(da igreja) e "salvar" essas pessoas, trazendo-as pra Cristo.

Ele leu um trecho de um versículo bíblico, que não me recordo agora, mas a idéia era que Nós somos um povo especial para deus, não somos qualquer povo, nós temos uma identidade para deus e a finalidade de viver para ele e levar sua palavra aos demais.

É um tanto entristecedor testemunhar a que ponto as pessoas são capazes de chegar para se salvarem do desespero que a verdade nua e crua pode levar. Pensar que somos um povo "especial", que fomos "salvos" por Jesus, que ele nos ama, etc. é, no mínimo, ingênuo e ilusório. Mas até entendo que pra essas pessoas, essa esperança é a única coisa que têm para se manter vivas e não se desesperarem diante da miséria da vida e o medo da morte.

Tudo que foi dito, os versículos que foram citados e as músicas que foram cantadas naquele louvor, pelo menos na minha interpretação, levava os crédulos a pensar que são os filhinhos especiais de deus, que ele nos ama e tem uma missão pra nós, e devemos ser gratos por isso e segui-la sem questionar.E todos aqueles que morrem sem conhecer a mensagem de deus estão condenados eternamente(nas palavras do pastor: Essas pessoas, quando morrem, desculpem a franqueza, vão pro inferno.).

Por isso, dizia o missionário, devemos tirar essas pessoas das trevas e guiá-las ao caminho da luz

Simplesmente eu não entendo como pode um deus tão supostamente misericordioso e benévolo só aceitar aqueles que o amam, e condenar eternamente os que o rejeitam, mesmo que tenham sido excelentes pessoas em vida, honestas e com consciência sempre tranquila.Mas enfim, isso agora não vem ao caso...

Outra coisa que me lembrei é que, diversas vezes, nas músicas e na pregação, diziam que deus criou o mundo e as pessoas só para o louvarem.Fiquei pensando: Mas que deus mais mesquinho é esse?!. Por que diabos um deus criaria tudo só pra que seres humanos ridiculamente insignificantes diante da imensidão do universo o louvasse??

Por muitas vezes também associavam deus a uma figura humana ('Deus tem seu nome escrito na palma da mão', 'Deus deu o coração dele a vocês','Deus ama vocês' e afins). Um deus totalmente antropomórfico na aparência e nos sentimentos. Isso me lembra aquela citação de Nietzsche: Não há no mundo amor suficiente pra atribuírmos a seres imaginários.

Além disso, houve um momento em que disseram claramente que deus nos deu a natureza humana, mas não quer que a seguimos.Ele não quer que estejamos presos ao valores mundanos, aos prazeres da carne, à nossa natureza humana, mais que devemos abrir mão dessa condição em prol do "Espírito santo", trocar a humanidade pela espiritualidade, e abrir nossos corações para que possamos sair daqui vazios de nós mesmos e cheios do Senhor.
O que é bem lógico na visão da religião, uma vez que quando não nos voltamos a nós mesmos, não pode haver filosofia(como dizia Sócrates), logo, não há pensamento crítico, lógica e razão; apenas fé e esperança.

Interessante notar também que para tudo atribuíam milagres.Se você está vivo, é um milagre; se se entregou a deus, eh um milagre; se está ali na igreja, é um milagre; se abriu mão da sua natureza humana pra pregar o evangelho, é um milagre. Enfim, imagino que Hume está se revirando no túmulo...

Algumas vezes, o pastor e as mulheres que cantavam diziam que ama Cristo e têm temor por ele.Que tipo de amor vem com o medo? Não seria isso opressão, coação?
Um versículo da bíblia que já li muito em msns alheios diz O temor pelo Senhor é o princípio da sabedoria., mas não pode haver sabedoria se houver medo de questionar, de pesquisar, de usar a razão. Contradições e mais contradições...

Ao final do culto, todos se abraçaram, cumprimentaram-se, sorriaram e se despediram. enquanto observava a tudo desde o início, eu realmente não tenho nenhuma crítica contra aquelas pessoas em si, pois, como já disse, foram muitos simpáticas e agradáveis, mas me senti como Richard Dawkins no documentário A raiz de todo o mal.

Essas reuniões aparentemente inofensivas não seriam o início do processo de alienação e fanatismo religioso que gerou e ainda gera as piores guerras e os crimes mais cruéis da história da humanidade?
A intolerância religiosa começa no momento em que colocam na sua cabeça que a sua religião é a unica certa e todos os outros são inimigos do seu deus, e essa, meus amigos, foi a impressão que eu tive ontem.

Só pra finalizar(e perdoem-me as delongas), gostaria de deixar como sugestão aos companheiros ateus, céticos e agnósticos que, quando forem abordados por crentes tentando evangelizá-los e não tiver pra onde correr(exemplo: dentro de um ônibus), não digam que não acreditam em deus(es), a menos que tenham muuuita paciência, porque é quase certo que o crente vai tentar os converter(as vezes usando até a violência verbal ou física mesmo), porque, na cabeça dele, essa é a missão que deus designou para que ele realizasse.

Infelizmente não haverá paz para nós enquanto essa mentalidade existir...

JackWaters

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